A vida moderna tem algumas premissas que, apesar de não falarmos abertamente é um assunto que está interiorizado em nós. Uma delas é que quem dorme demais não é bem-sucedido. A imagem de uma pessoa de sucesso parece estar relacionada com as pessoas que usam a maior parte do seu tempo trabalhando, porque tempo é dinheiro, e ou ocupando sua vida em assuntos relacionados ao trabalho. Não quero entrar no mérito da questão, quero que você pense
Qual a importância que você dá para o seu sono dentro da sua rotina exigente?
Talvez você seja um executivo de sucesso, uma mulher ou homem que trabalha em casa dedicada(o) aos cuidados da casa e dos filhos, um profissional liberal, ou uma pessoa com formação básica que trabalha em mais de um emprego. Independente do contexto, o que entendo é que todas as pessoas têm algum tipo de produção, sendo ela remunerada ou não. E essa produção faz com que você acredite que tem um valor dentro da sociedade e, também, nas suas relações pessoais. Dá para entender que o trabalho é algo que engrandece socialmente. Mas dormir é o oposto do trabalho, veja se alguma dessas frases fazem sentido:
Dormir demais é para preguiçosos.
Ontem dormi tarde porque tinha demais coisas para fazer.
Essa noite dormi apenas 4 horas, estou cansado, mas vim trabalhar.
Dormir é para os fracos.
Eu quase não durmo porque sou uma pessoa muito ocupada.
O sono não está nem de perto ser a nossa prioridade no dia a dia. Apesar de sabermos que poucas horas na cama fazem com que tenhamos alguns sintomas como, sono diurno, irratabilidade, dificuldade em resolver problemas, continuamos a não nos importar o suficiente com esse assunto nas nossas vidas. Aos poucos vamos dormindo menos e menos, sentindo mais cansaço, e vamos cansando de nos cansar. Isso é só parte do impacto que o sono insuficiente faz conosco.
Trabalho muito para produzir muito e, por isso durmo pouco.
Se você é daquelas pessoas que dorme menos de 6h30 com o motivo de que precisa fazer muitas coisas e o dia não é suficiente, eu gostaria de lhe dizer que isso não é muito eficaz. É bastante claro para todos que se nos alimentarmos mal podemos desenvolver alguns problemas de saúde. Dormir é tão essencial para sua vida e sua saúde, como comer e beber. Se parássemos de comer e beber durante dias seguidos provavelmente sucumbiríamos por falta de abastecimento no corpo. O mesmo acontece se não dormirmos o suficiente, mas a maioria das pessoas subestima as suas necessidades de sono. Esta subestimação reflete no relatório da National Sleep Foundation (2011), em que se afirma dois terços das pessoas não dormem o suficiente durante a semana.
As consequências de dormir pouco vão sendo visualizadas a curto e longo prazo. Na esfera de negócios, “a privação do sono faz agora parte de um repertório de práticas consideradas essenciais para a sobrevivência num mundo globalmente competitivo” (Alan Derickson escreve em Dangerously Sleepy). E assim, viver com menos de seis horas de sono acaba por se tornar um dos maiores fatores de esgotamento no trabalho.
Provavelmente você ou seu colega não vão faltar no trabalho por causa de uma má noite, mas, vão acabar produzindo menos por estar cansado. “Numa economia baseada na informação, é difícil encontrar uma situação que tenha maior efeito sobre a produtividade” (Ronald C. Kessler, professor da Escola Médica de Havard). Os números de prejuízo em dinheiro para as empresas são assustadores.
O prejuízo na nossa saúde está diretamente relacionado ao aumento no risco de Diabetes, Obesidade, Doença cardíaca, Acidente Vascular Cerebral (A.V.C.), Depressão, Ansiedade, estresse, e outros problemas de ordem emocional.
Vale a pena dormir pouco?
Na minha opinião, vale a pena nos organizarmos durante todo o dia para termos um encontro marcado com a nossa cama e, garantir uma quantidade mínima de horas de sono na noite. Óbvio que, para muitas pessoas não se trata simplesmente de ir se deitar e logo fechar os olhos, mas definitivamente não é neste texto que darei conta de explicar o que tanto influencia dormirmos melhor ou pior. A minha intenção é fazer você pensar na relação sono e trabalho, além do quanto isso faz ou não sentido para você.
Nathália Bradolim Becker
Psicóloga - CRP 08/26241
Referências:
“Annual Sleep in America Poll Exploring Connections with Communications Technology Use and Sleep,” Press release da National Sleep Foundation, 7 de Março de 2011, www.sleepfoundation.org
Ronald C. Kessler, Patricia A. Berglund, Catherine Coulouvrat, Goeran Hajak, Thomas Roth, Victoria Shahly, Alicia C. Shillington, Judith J. Stephenson, e James K. Walsh, “Insomnia and the Performance of US Workers: Results from the America Insomnia Survey,” SLEEP 34 (2011), p.1161-1171.
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