Não há nada de errado em redescobrir a sua sexualidade. Não é porque no passado você disse ser gay ou hétero por exemplo, que você não tenha o direito de sentir e viver sua sexualidade de uma maneira diferente.

A sexualidade de muitas pessoas (não de todo mundo, mas de muitas pessoas, aliás principalmente de mulheres) passa por flutuações de interesses que podem acontecer de maneira sutil ou mais intensa. Ex.: um homem que a vida toda se declarou gay, em determinado(s) momento(s) da sua vida, pode sentir (em algum nível e em alguma frequência) atração sexual ou emocional não só por homens, mas também por mulheres. Ou seja, muitas pessoas estão sujeitas a sentir algo diferente daquilo que estão habituadxs. Esse é só um exemplo, porque sexualidade fluida é diferente de bissexualidade. Pessoas que vivenciam uma sexualidade fluida, têm experiências únicas, por isso não necessariamente experiências bissexuais.

Ao mesmo tempo, é importante frisar que o fato da sexualidade ser fluida não significa que podemos modificá-la, pois isso não é uma escolha. Cabe a pessoa diferenciar o que é somente uma fantasia passageira de um desejo real e significativo, cabe a ela descobrir realmente como é a sua própria sexualidade, pois ninguém melhor do que nós mesmos para sabermos da nossa sexualidade.

E mesmo que nem todo mundo tenha uma sexualidade fluida, não era para ficarmos surpresxs ou confusxs com esta possibilidade. Já que enquanto seres humanos, constantemente estamos mudando, e com a nossa sexualidade não poderia diferente.

Talvez o que nos atrapalha é que a sociedade exige de nós um rótulo. Então quando não nos encaixamos em nenhum rótulo, nos sentimos incompreendidxs e excluídxs. Mas a verdade é que o espectro da sexualidade é amplo, então dificilmente poderíamos nos rotular. Podemos mudar em horas, dias, ou em anos. E em diferentes graus. Mas volto a repetir, isso não acontece necessariamente com todas as pessoas e muito menos da mesma maneira.

A Escala de Kinsey diz que é raro pessoas totalmente heterossexuais ou totalmente homossexuais. A maioria se encaixa na bissexualidade. Além disso, ela mostra que a sexualidade não é tão fixa quanto pensamos. Há muitos espectros da sexualidade humana.

Até mesmo a nossa identidade de gênero pode ser mais fluida do que pensamos. Às vezes gostaríamos de ficar mais à vontade em nos vestir, falar e comportar diferente do sexo que geralmente nos expressamos ou nos identificamos. Até mesmo porque a sociedade estabelece padrões muito rígidos do que significa ser mulher e do que significa ser homem, e isso não condiz necessariamente com a forma de ser de cada pessoa. Somos bilhões de pessoas (singulares) no mundo, não dá pra todo mundo se encaixar em estereótipos assim.

Dr. Chris Donaghue em seu livro “Sex outside the lines” diz que o termo sexualidade fluida é mais inclusivo, e que somos mais abertos do que imaginamos a mais gêneros. Lembrando que não existe somente o gênero feminino e o gênero masculino. Sem falar que estamos em constantes mudanças, não só externamente, como internamente. Somos fluidos em vários sentidos.

Fica a pergunta: independente da sua afetividade, será que é saudável nos reprimirmos para nos forçarmos a viver um rótulo? O que aconteceria se nos dispuséssemos a ser 100% honestos com nós mesmos, abrirmos nossas mentes para nos descobrirmos e nos aceitarmos cada vez mais, independente de nos encaixarmos em padrões? Afinal, permitimos a nossa própria evolução a partir do momento em que aprendemos a respeitar e a amar o nosso corpo e também a nossa sexualidade.


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