Seu conceito sobre “cuidar de si” está deturpado?

Uma reportagem da revista Forbes escrita por Tami Forman, que trabalha com empoderamento feminino, traduziu isso de forma bem didática e direta:

“Auto-cuidado não é glamour. É disciplina”.

Auto-cuidado, desta forma, não está apenas atrelado a espumas de banho relaxantes ou a atividades de lazer super prazerosas, como muitas vezes vemos representados por aí. Auto-cuidado requer uma super disposição para o entendimento profundo e individual de quais são as suas prioridades, num movimento de respeito a você mesmo.

Mas diferentemente disso, posso quase afirmar, pela minha experiência clínica em psicoterapia, que geralmente os pensamentos e as práticas de auto-cuidado surgem no seu dia a dia principalmente após períodos muito estressantes e cansaço. E estão relacionadas a pensamentos do tipo:

“Nossa, preciso cuidar de mim. Acho que vou____________”.

E aí você preenche este espaco em branco com atividades relaxantes ou hobbies ou comida - prazeres imediatos e que não necessariamente estão relacionados ao que você pretende alcançar na sua vida. Afinal, você precisa ter compaixão por si mesmo e desestressar, não é mesmo?

Frente a esta atitude perante a vida, só posso dizer que isso é uma redução do conceito de cuidar de si. Sabe por que? Porque cuidar de si também é:

- Desligar sua TV ao invés de assistir outro episódio da sua série favorita, porque você precisara acordar bem cedo no dia seguinte para iniciar seu dia bem.

- Dizer “não” para coisas que você não quer fazer por não estar de acordo com seus valores pessoais, mesmo que isso deixe alguém bravo.

- Manter independência financeira.

- Fazer trabalhos que importam/significativos.

- Ir para a terapia semanalmente mesmo que isso, em alguns momentos, seja emocionalmente dolorido.

- Estar atenta a seus pensamentos e afetos, aumentando sua consciência sobre seus valores pessoais e suas ações no mundo.

- Deixar as pessoas cuidarem delas mesmas.

Eu sei que a listinha acima parece um tanto desestimulante... E isso acontece porque cuidar de si significa também fazer coisas boas para você, mesmo que isso requeira abrir mão de prazeres pontuais e momentâneos. E para que isso seja possível, é necessário ser disciplinado.

É necessario disciplina para fazer coisas que nos trazem bem-estar: exercícios físicos, alimentação, terapia. É preciso responsabilidade conosco para saber que somente você pode fazer isso por você mesmo.

Além disso, sempre é importante lembrar que não é necessario que as práticas de auto-cuidado ocorram apenas após momentos conturbados como estamos acostumados a fazer. Cuidar de si pode ser um compromisso com uma experiência regular de estar em busca de uma vida mais saudável e em busca equilíbrio sempre.

O que percebo em consultório e que foi relatado também na reportagem, é que “ironicamente, quando você realmente cuida de você mesmo, exercendo toda a disciplina que isso requer, você está em uma posição muito mais forte para lidar com situações adversas do mundo e para, até mesmo, doar um pouco de si para os que estão ao seu redor”. Desconstruindo o mito que cuidar de si é egoísmo em detrimento do outro. Pelo contrário, quem consegue cuidar de si, está muito mais forte para poder conectar-se com o outro com mais significado e propósito.

Que tal ampliar suas práticas de auto-cuidado para além da glamorização? Que tal cuidar de você como uma prática regular e real?


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