ENTREGAR-SE À INUTILIDADE!

Após ler uma crônica de Ruben Alves que falava sobre a deliciosa irresponsabilidade da inutilidade fiquei pensando no meu dia a dia. Percebi que sempre há tantas coisas a fazer, metas e horários a cumprir, pontos digitais a serem registrados, mensagens a responder.

Difícil esse exercício de simplesmente não fazer nada, de se desconectar dos aparelhos e se entregar à inutilidade. Ficar parada sentindo a respiração, o vento roçando nossa pele, ou simplesmente contemplando o que está ao redor e que nem sempre temos tempo para perceber.

Nessa era da pós-modernidade em que as informações são instantâneas e as opções de conexões são diversas, parece que ficar um dia distante do celular e das redes sociais é impensável. Assim, algo que seria para facilitar e agilizar nossa vida, se torna mais um peso, mais uma responsabilidade para dar conta.

Mas qual a importância de desligarmos de tudo isso, afinal, esse tempo de ociosidade poderia ser utilizado para colocar em dia nossos afazeres e obrigações?

Muita importância! Na intenção de dar conta de todas as obrigações, vamos entrando no redemoinho de afazeres e cobranças, e sem que nos apercebamos, vamos adoecendo aos poucos. Mas não se trata de um adoecimento perceptível, tal como uma gripe, uma contusão - é algo mais sutil. A vida vai ficando cinzenta, mais tensa, sem atrativos, o que pode resultar num distanciamento das pessoas que gostamos e das coisas que nos dão prazer.

Creio que possamos nos espelhar nos animais. Nesse sentido, convivo com três lindos gatos e nessa convivência percebo que eles fazem muito bem esse exercício de contemplação, de ficar um longo tempo parados como se fossem estátuas. Talvez alguém possa dizer que eles não têm obrigações a cumprir e nem com o que se preocupar. Ora, pode ser, mas a questão é a seguinte: será que nós necessitamos carregar sempre esse peso das obrigações, das responsabilidades, dos enquadres? Será que temos realmente de cumprir todas as responsabilidades que pensamos ter de cumprir?

Exercício diário esse de carregar alguns sacos a menos e se entregar à deliciosa irresponsabilidade da inutilidade. Viver momentos de ociosidade pode contribui para nos reconectarmos conosco e com aquilo que faz sentido em nossa vida, e que acabamos nos distanciando pelas obrigações diárias e pela nossa rotina.

Uma psicoterapeuta certa vez me sugeriu: 30 minutos diários dedicados inteiramente para mim, que aos poucos deveriam ser ampliados. Pode ser difícil abrir esse espaço em nossa agenda, e em algumas situações pode parecer até impossível. Mas que tal começar com alguns minutos diários sem fazer nada, sem se cobrar, reservados apenas para você. EXPERIMENTE!

 

Por Débora Rafaelli
Psicóloga Existencialista e Arteterapeuta - CRP: 06/103056

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