Skinner afirma que a ciência consiste numa busca da ordem, da uniformidade, de relações ordenadas entre os eventos da natureza. Ele acrescenta que esta busca se deve a compreensão de que após a descoberta das leis que governam uma parte do mundo ao nosso redor e a organização destas leis em um sistema, estaremos, finalmente, preparados para lidar eficientemente com a parte do mundo em pauta. Isto porque entende-se a previsão da ocorrência de um dado acontecimento como vantajosa para a capacidade de preparação para o mesmo.

No entanto, Skinner critica o fato de que muitos daqueles que mostram interesse no comportamento humano não sintam a necessidade dos padrões e critérios de prova característicos de uma ciência exata. Ao mesmo tempo que estes interessados relutam em aceitar as conclusões que tais provas inevitavelmente apontam se não “sentirem’’ por si próprios a uniformidade a que tais provas se referem.

Cientes, então, sobre o que é ciência e sobre o fato de que alguns profissionais da psicologia não estão interessados em construi-la sob os métodos que esta impõe, vê-se que a questão relativa à psicologia ser considerada ciência ainda não recebeu uma resposta consensual nos dias de hoje. Complementar à isto, vemos que há aqueles que têm uma única resposta de prontidão para fornecer a essa questão que poderia ser positiva afirmando que “sim, a psicologia, sem dúvida, é uma ciência!”; positiva, mas com ressalvas dizendo que “ela não é uma ciência como as exatas ou biológicas, mas não deixa de ser uma ciência, enquadrando-se nas ciências humanas”; ou até mesmo negativa ao inferir que “a psicologia está no campo da ética, portanto, não é ciência”.

Todavia, o curioso de todas essas prontas-afirmações é que, no caso da positiva, quando você não para na pergunta “a psicologia pode ser considerada uma ciência” e avança para “por qual motivo você está me dizendo que ela é ciência?”, os defensores desta, em geral, começam respondendo que “é ciência porque faz ciência” e terminam dizendo que temos a psicologia comportamental a qual nos concede o status de ciência, então, a questão que fica aqui é: “estamos julgando o todo pela parte?”.

Para além disto, temos a segunda resposta, a qual inclui ressalvas em sua afirmativa e, comumente, os declaradores desta iniciam sua explicação dizendo que “somos um tipo de ciência diferente” e continuam apontando para o fato de que a psicologia não utiliza os mesmos métodos de uma ciência exata ou biológica para enquadrar-se nestas tipologias de ciência, mas novamente chega a finalizar seu discurso indicando as neurociências como uma parte deste todo que tem utilizado apenas os métodos científicos das ciências exatas e naturais. Com isto, mais uma vez ficamos nos perguntando “que ciência é essa que tem tantas divergências dentro de si mesma? Afinal, em geral, quando temos conhecimentos e métodos muito divergentes dentro de um mesmo campo, o que acabamos por encontrar são dois campos distintos, não?!”.

Entretanto, as indagações não se encerram aqui, ainda na resposta negativa, que diz que somos um campo da ética e não da ciência, os divulgadores desta concepção, frequentemente, nos reconhecem, por fim, como “psicologias”, em outras palavras, como muitas partes tentando se encaixar num mesmo todo, ou como conhecimentos e métodos diversos tentando conviver dentro de um mesmo campo do saber. Entretanto, utilizam isto como razão para nos conceber no campo ético, em vez de no campo científico, como se o fato de termos diversos saberes nos posicionasse aptos ao questionamento, mas inaptos a afirmações provisórias (provisórias porque a ciência não ocupa o lugar de quem está apto a conceder verdades absolutas, mas a afirmar temporariamente, o que significa poder refutar a si mesma quando se depara com novos dados capazes de contrapor ou somar aos anteriores). Seria esta razão suficiente para nos considerar um campo ético e não científico?

Afinal, se afirmamos que estamos em um campo ético, que nos habilita ao questionamento, e não científico, não nos habilitando a afirmações, existe razão suficiente para alguma defesa? Vemos, então, que diante de um quadro de tantas questões, não temos uma resposta para a intrigante pergunta sobre a psicologia constituir-se como ciência.

 

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