De ano em ano, participo de um grupo de voluntários desenvolve um projeto titulado como "Resgatando Valores", em escolas da rede pública de nossa cidade.
Após muitas observações, experiências, fatos e estudos, chegamos a conclusão que a família está em crise e de alguma forma precisamos ajudá-las.
Um amigo de profissão, Psicólogo Estevam Fernandes escreveu que “uma das maiores frustrações deste final de século é a crise que se abate sobre a família. A desagregação da família tira o brilho do progresso, das conquistas e da expansão do conhecimento que nosso século promoveu. Ver a família sendo destruída causa uma dor profunda na consciência dos que levam a vida a sério”.
“O desmoronamento da família coincide com a crise da afetividade. A essência de nossas vivências está nos relacionamentos significativos, especialmente aqueles que se dão no âmbito de vida familiar. A afetividade é uma espécie de “cimento" na construção das relações humanas, e o homem do nosso século, preso às garras do individualismo, vai excluindo da sua vida a afetividade como algo relevante”.
O que vemos ao desenvolver o projeto é exatamente isto, o individualismo tem sido difundido como algo produtivo e algo que deve ser conquistado. Uma coisa é ter seus direitos, seu espaço, suas vontades. Outra é não se importar com o próximo e achar que tudo gira em torno de si próprio.
Crianças e Jovens egoístas, que não conseguem amar a si mesmos, que não conseguem, se quer, respeitar os pais, os professores e os amigos. E vou mais além, acreditam que seus problemas são resolvidos no grito, na violência e até na morte (suicídio).
Fernandes sob o ponto de vista terapêutico relata que “cuidar da família implica um cuidado urgente de nós mesmos, especialmente no que se refere aos nossos sentimentos, pois eles é que dão sentido e consistência à nossa vida. Sentimentos sadios implicam em relacionamentos sadios e isso é também uma questão de aprendizagem, e exigindo um esforço de cada um de nós, para o bem da família. Aprender a amar, a valorizar os outros, a respeitar, a perdoar, a esvaziar-se de si, a abraçar, a valorizar os pontos positivos das pessoas, são gestos simples que produzirão mudanças profundas na vida em família. Dizer "eu te amo" é muito mais fácil do que alimentar o ódio. Nenhuma família sobrevive sem amor, pois somente ele produz em nós atitudes tais como: tolerância, misericórdia, paciência, confiança, perdão e renúncia”.
Se para vivermos em família são necessárias todas essas atitudes, imagina na sociedade, na escola, com os amigos. A questão é que a família é o berço de tudo isso. É na família onde aprendemos e desenvolvemos tudo isso.
Uma pergunta que me faço sempre é o porquê as famílias estarem se “de-solidificando”?
A resposta vem imediatamente em outra fala de Fernandes, “o cuidado urgente para salvar a família está na solidificação da relação marido/mulher, eixo básico dos relacionamentos familiares. Infelizmente, muitos filhos crescem sem ver sequer seus pais juntos, e outros, por sua vez, jamais viram os pais abraçados, vivenciando afeto e ternura. O modo de viver dos pais, afeta diretamente o modo de ser dos filhos, por isso mesmo, assistimos a um crescimento assustador de filhos drogados, rebeldes, agressivos, apáticos e inseguros. Quando se fortalece as bases, toda a construção fica mais segura”.
Você pode estar pensando que seu marido não foi bom o suficiente para manter o relacionamento, ou que sua esposa não foi companheira. Pense que o relacionamento se faz a dois, ambos precisam avaliar todos os aspectos do relacionamento e rever onde precisam melhorar. Se um começa, o outro provavelmente seguirá as mudanças. Aos que estão pensando em casar ou constituir uma família, avalie tudo isso antes mesmo de constituir uma família. Reveja os pontos fracos da relação e mude. O perdão, o amor e a compreensão podem salvar muitas coisas.
Inspirados a escolher “Resgatando Valores” para nosso projeto, vimos que resgatar todos estes valores mudaria as famílias, a escola, os alunos e até os professores. Não que somos mágicos ou faríamos algum milagre, mas que algo nasceria no coração de todos, inclusive dos voluntários, nunca duvidamos.
Acreditamos que é fundamental para a saúde da família a revisão dos valores. Percebemos em nossas experiências que muitas famílias desenvolvem um mercado de troca em seus relacionamentos. O carinho só existe, se ganho algo. As palavras eu te amo, são expressas só se ganhar o que quero, só dou um abraço quando recebo um dinheiro em troca.
Estes valores devem ultrapassar o limite do material e das coisas transitórias. Quando um filho precisa de um brinquedo para sentir-se amado pelos pais; quando a esposa precisa de uma jóia para sentir-se amada pelo marido, é sinal que nesta família os valores estão invertidos, pois as pessoas devem valer pelo que são e sentem e nunca pelo que possuem ou possam oferecer.
Um outro aspecto não menos importante, é o resgate da fé. Quantas pessoas incrédulas. Os valores espirituais como fé, a esperança e o louvor. Não estou aqui pregando uma religião, uma denominação. Porém tentar "salvar" a família desta crise aguda sem a presença de Deus e a força do amor é, como disse Jesus, construir a casa sobre areia. - ao primeiro vento forte tudo cai.
Precisamos resgatar, construir, fortalecer, criar, solidificar e tudo mais que for necessário para termos nossas famílias estruturadas e pronta para o vento e a tempestade.
Se quisermos UM MUNDO MELHOR, comecemos pelas nossas FAMÍLIAS.
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