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O CORINGA: Chegou o momento! Resolvi falar sobre esse filme que está em cartaz nos cinemas, e está abalando os corações dos apaixonados pelos filmes do Batman - e dos, que assim como eu, não ligam pra eles.
O filme aborda muitas questões relevantes para serem comentadas, como questões sociais e políticas; e sobre as questões da saúde mental e psicológica - é a essas que vou me ater.
O primeiro grande motivo que o filme me encantou, foi o retrato fidedigno de como a sociedade lida com os transtornos mentais. No caso do personagem de Joaquin Phoenix, fica claro que o seu transtorno não é levado a sério - ele foi espancado na rua sem motivo algum, e era zoado o tempo todo pelos colegas de trabalho. A reflexão que ficou pra mim, foi que sim, ainda existe um descaso social em relação à saúde mental. Essa reflexão por mim foi feita - principalmente - através de uma frase que o Coringa escreve em seu caderno de piadas (Que eu jamais esquecerei): "o problema de você ter um transtorno mental, é que as pessoas esperam que você aja como se não tivesse". (Durmam com essa)
Entrando no âmbito psicológico do personagem, o primeiro ponto que me chamou muito a atenção foi o fato de que a mãe de Arthur Fleck impõe à ele, desde a infância, que o seu lema de vida gire em torno da felicidade e da alegria - ela o apelidou de Feliz. Adotando a identidade criada pela mãe, ele foi ser palhaço e "decidiu" (entre aspas porque: foi realmente ELE que decidiu?) Que levaria felicidade ao mundo - mas será que ele era tão feliz?
Em contraponto com tanta felicidade, podemos visualizar um personagem com cargas emocionais e questões psicológicas que entram em conflito com a ideia (ilusória, diga-se de passagem) dessa tal Felicidade.
Isso se mostra em VÁRIOS momentos do filme. Entre eles, o que mais me marcou foi a sua conversa com a assistente social, em que ele coloca pra fora o que sente e diz: "você não me ouve. Você sempre faz as mesmas perguntas, mas não me ouve. Ninguém me ouve". E seguido desse desabafo - carregado de tanto sofrimento e profundidade - recebe a resposta burocrática de que não seria mais atendido pela assistente social. (COMO É QUE É?!)
Por fim, temos que falar sobre o fato do Coringa ir ao ato - ou seja, matar. Um dos sinais preocupantes que o personagem apresenta ao longo do filme, são as alucinações. Para a psicanálise, as alucinações acontecem porque parte dos conteúdos e acontecimentos da infância, que foram "esquecidos" ao longo da vida, retornam para o nível consciente - para quem assistiu, no filme fica explícito quais são essas questões, e como elas caracterizam um trauma.
Uma das maneiras que o inconsciente encontra de lidar com essas questões traumáticas, é fazer o que o Coringa faz o tempo todo: romper com a realidade. Dizer que existe um distanciamento da realidade, significa dizer que se está cada vez mais longe daquele famoso "anjinho mental", que fica o tempo todo lembrando a nossa cabeça do que é certo/errado, do que é socialmente aceito ou não (em psicanálise, o "anjinho mental" pode ser chamado de EGO).
Então, quanto maior o distanciamento do EGO, maiores as chances de um indivíduo ir ao ato, e realizar feitos que são socialmente inaceitáveis.
Depois desse textão, fico por aqui torcendo pra que tenham gostado desse filmão. E pra quem ainda não foi assistir, PARA DE PERDER TEMPO e corre pro cinema!
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