Responderei essa questão seguindo a minha própria linha de trabalho, de orientação psicanalítica (havendo, portanto, outras formas de se ver e se definir psicoterapia além da aqui exposta), usando uma imagem do conto de fada ‘A Princesa e a Ervilha’.
Nele uma rainha testa a identidade de uma mulher que se diz princesa a fazendo dormir sob vinte colchões e vinte cobertas, porém, debaixo dessas se encontra uma pequena ervilha. Ao acordar a suposta princesa queixa-se de dores no corpo, amaldiçoando o leito onde repousara. Tal queixa revela a veracidade de suas palavras, pois somente uma princesa seria sensível o bastante para sentir uma ervilha debaixo de vinte camadas de colchões e cobertores.


Cada um carrega dentro de si vinte camadas de colchões e cobertas, e cada um carrega debaixo dessas suas próprias ervilhas - questões pessoais e emocionais - que tantas dores e mal estar geram, como depressão, ansiedade, indecisão, dificuldades de relacionamento, etc. O trabalho da psicoterapia é justamente o de encontrar essas ervilhas ocultas em meio a tantas camadas. Embora nem sempre se possa removê-las, é possível realocá-las onde causem menos prejuízo ou, até mesmo, onde sejam de maior utilidade. 


É claro que procurar ervilhas em camadas e mais camadas de colchões e cobertas não é tarefa fácil, fazendo da psicoterapia um processo que demanda esforço e tempo exigindo dedicação, coragem e persistência, tanto do paciente quanto do psicoterapeuta.


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