Muitas pessoas enfrentam em seu dia-a-dia dores incapacitantes e contínuas. A essas, que duram pelo menos mais de 3 meses, chamamos de dores crônicas, as quais, muitas vezes, ainda não há cura e uma das formas que ainda encontra-se para amenizar a situação é a intensa medicalização.
Fibromialgia, dores decorrentes de processos inflamatórios como a Endometriose, Artrite Reumatóide, Dor neuropática, Cefaléias, entre muitas outras, causadas por lesões orgânicas ou não.
Essa forma de dor é tomada pela medicina no campo do objetivo, do compreensível, do generalizável, cujas medicações e tratamentos tentam solucionar uma gama de sintomas com o objetivo de eliminá-los. Entretanto, há uma grande incidência de tratamentos que não provocam os efeitos desejados, fato que intriga esses profissionais: “Por que esse remédio não fez efeito? Esse paciente vem aqui sempre com a mesma queixa e já não sei mais como tratá-lo, será que ele está inventando sintomas?”.
Há, dessa forma, um sujeito que sofre e um corpo que sofre. Essas dores são tão nocivas que não prejudicam somente ao nosso sistema biológico, mas também provoca diversos danos sociais e psicológicos ao indivíduo, como a depressão e crises de ansiedade. Por sentir dores incapacitantes, não conseguir trabalhar como deseja, retira-se do convívio social pela dor, o lazer acaba se tornando uma realidade distante. Muitas vezes os remédios analgésicos muito fortes, os quais amenizam, porém, não retiram a dor, deixam essas pessoas, devido seus efeitos colaterais, impossibilitadas de atividades rotineiras e também prazerosas.
Mas o que a Psicanálise tem a dizer sobre isso??
Freud iniciou seus estudos, inaugurando a Psicanálise, interessando-se pelos sintomas orgânicos de mulheres, que não podiam ser explicados pela medicina da época. Para a psicanálise, o corpo é considerado algo além do orgânico, há o corpo não fisiológico, o corpo que é marcado pela linguagem e apresenta um sentido e um significado para cada sujeito.
Por essa razão, as manifestações da dor são singulares e, até mesmo, fogem aos aspectos e padrões predeterminados pelo campo médico. E este profissional, muitas vezes, por não compreender a dor de seu paciente, por ser recorrente sem razão aparente ou até mesmo inexplicável, encaminha-o constantemente a outras especialidades.
O paciente vai então de médico em médico em busca de um tratamento, uma resposta, um nome para sua dor, ou até mesmo, ele procura alguém que, ao menos, acredite em sua dor, pois esta ainda é alvo de dúvidas e questionamentos por diversos profissionais
Freud, então, pensando nesses sintomas, ressalta seu caráter enigmático, o qual precisa ser decifrado, pois essas dores são um apelo, nosso corpo quer sempre nos dizer algo, tal qual o Enigma de Esfinge de Tebas.
Esse Enigma diz assim:
“Instalada numa rocha, a Esfinge propunha um enigma aos passantes. Se não fossem capazes de resolvê-los, ela os matava e devorava. Ela dizia então: DECIFRA-ME OU DEVORO-TE!"
Ao enfrentá-la Édipo recebeu o seguinte enigma: Qual o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três à tarde? Ele prontamente respondeu: O Homem; na infância arrasta-se sobre os pés, e as mãos depois se mantêm em pé e na velhice faz uso de um bastão.
A Dor, principalmente a Dor Crônica, coloca-se para o indivíduo que sofre como um enigma, que precisa ser decifrado. Para além de possíveis causas orgânicas, é importante nos questionarmos: "Por que meu corpo sofre? O que ele está tentando me dizer?”.
Nasio (2008), um renomado psicanalista, diz que a dor é vivida como uma invasão aniquiladora que se traduz por uma sensação física de desagregação, um desmoronamento mudo do corpo.
Um enigma que comunica, por meio dos sintomas físicos, algo que se mostra como um encontro com um conflito, algo que não tem nome, não há palavras e surge como um apelo e demanda ao Outro e busca um laço.
Nessas situações, a escuta oferecida pelo Psicanalista é de fundamental importância para promover que o sujeito, ao escutar-se em sua dor, possa contorná-la pelas palavras, conferir uma significação ao seu sofrimento.
Ao falar de si, de seu sofrimento, de seus sintomas, o indivíduo que sofre uma angústia que passa por seu corpo e vai além deste, promove que tais sintomas passem a fazer parte de sua via significante. Quando o paciente consegue dar um sentido outro a sua dor, ao passo que seu enigma e apelo vão sendo decifrados, ela vai adquirindo, aos poucos, outra significação.
Decifrar o enigma, essa é a chave. E no mito, quando Édipo consegue decifrar o enigma, a Esfinge se mata: esta é a significação outra que é possível conferir à dor.
Caso você ou alguém de sua família esteja passando por uma situação parecida, procure um profissional da Psicologia, não hesite. Estou à sua disposição!!
Por Karina Stagliano de Campos
Psicóloga Clínica CRP 08/17163
Mestra em Psicologia
tps://www.facebook.com/psicologakarinastagliano/
https://www.instagram.com/psic_karinastaglianocampos/
https://psicoclique.com.br/psicologo/0817163/karina-stagliano-de-campos
Referências:
Freud, S. (1895b/1996). Estudos sobre a histeria. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Estudos sobre a histeria, v. II. Rio de Janeiro: Imago.
Freud, S. (1895c/1996). Sobre os fundamentos para destacar da neurastenia uma síndrome específica denominada “neurose de angustia”. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Primeiras publicações psicanalíticas, v. III. Rio de Janeiro: Imago.
Nasio, J. D. (2008). A dor física. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
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