Quando alguém chega no meu consultório, vem com uma certa ansiedade em busca de uma solução para as suas questões inquietantes. Muitos dos pacientes que eu atendo têm uma característica em comum: abandonam a sua essência integral para darem lugar a um ser idealizado e impossível de ser atingido.

O problema começa quando somos educados para viver em sociedade: assumimos papeis pré-determinados e fortemente influenciados por nossos pais e por toda uma cultura introjetada em nossa mente, mesmo antes de termos condições de compreender este fato. Tudo isto se contrapondo à natureza biológica do homem, que por muitas vezes assume o protagonismo de muitas atitudes.

Convenções sociais, comportamentos e um olhar para o mundo que nos rodeia são o norte para que tenhamos um sentimento de pertença. Ninguém quer se sentir estranho ou colocado à margem da sociedade. A questão é o preço que se paga para tal fim. As patologias surgem, e como uma represa prestes a se romper por não ter estrutura adequada para comportar tamanho volume de água, assim é a vida, que se rompe descontroladamente em meio a crises existenciais, ataques de pânico ou compulsões, dentre tantas outras possibilidades.

Com certeza na sua história de vida você já ouviu falar: “não toque nisto, isto é sujo!” ou: “ isto não é para meninas!” ou ainda: “engole esse choro, homem não chora!” e por aí vai, sem contar em outras repressões tão nocivas quanto estas que eu acabei de enumerar. Somos educados para o belo e para o perfeito, até com boas intenções pelos nossos pais, porém devemos nos atentar que eles não vieram prontos para esta função: eles se tornam pais em uma tomada de consciência que pode se dar no momento da concepção, da gravidez, do nascimento ou talvez nunca cheguem a este patamar de percepção, na pior das hipóteses.

Nossos pais carregam a herança emocional e comportamental de muitas gerações, não somente a da geração imediatamente superior. Compreender como se formou e desenvolveu a nossa árvore genealógica é um grande passo para se entender certos padrões de comportamento familiar que se repetem como novela da sessão da tarde, com um enredo que nós já conhecemos o início, o meio e o fim.

Talvez você tenha tido a sorte de ter pais bondosos e amorosos, e isto é uma dádiva! Mas digo àqueles que não tiveram o mesmo caminho: antes de fazer as pazes consigo mesmo(a), faça com os seus ancestrais. Cada um deles exerceu em vida o que lhe cabia exatamente fazer, com todas as limitações e recursos disponíveis à época. Não vieram com um manual de vida pronto a tiracolo: “são crianças como você”, como dizia o músico Renato Russo em sua canção Pais e Filhos.

 


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