“Depois de tudo o que eu fiz por você, é assim que me retribui?”

Quem nunca ouviu ou falou essa frase? Levante a mão!
Eu já ouvi muito. Seja através do olhar de repreensão, da indiferença ou das palavras ditas em alto e bom som.
Fato é que esta frase fica nas entrelinhas quando uma relação desequilibrada está chegando ao fim.

Você leu bem, relação desequilibrada.
Porque nos relacionamentos entre iguais, ou seja, nas amizades, nos negócios, no casamento, namoro, enfim... onde não existe uma ordem de chegada, a lei que vigora é a do equilíbrio. Essa lei diz que as trocas precisam ser equilibradas para manter relacionamentos saudáveis.

Um exemplo contrário disso, é a nossa relação com os pais. Eles chegaram antes né nos, então não existe equilíbrio na relação entre pais e filhos, existe uma ordem. Eles vem antes, por isso são grandes e estão na condição de conduzir. Nós filhos, viemos depois, então somos pequenos diante deles e estamos na condição de receber. Um filho não pode tentar pagar o que seus pais fizeram por ele, por que essa conta não fecha! Isso não é possível. Como você poderia retribuir a vida? A única coisa que um filho pode fazer é ter gratidão. Receber o que foi dado, tal como foi e fazer algo bom com isso. Gratidão não é tentar pagar o que foi feito. Isso se chama dívida. Gratidão ou gratitude, é a ação de tomar aquilo que foi dado com amor e alegria no coração. E ponto. E o ponto é o mais importante.

Agora, numa relação entre iguais, não existe ordem. Um exemplo, quem chegou primeiro no seu relacionamento de casal? Para existir um relacionamento os dois chegam juntos. Um olha para o outro e diz: “sim, eu quero estar com você”. Dali em diante caminham juntos, lado a lado. O mesmo movimento ocorre entre amigos e entre parceiros se trabalho.

Porém, quando um começa a fazer muito pela relação, esse que faz mais, se acha melhor e no direito de exigir, enquanto que aquele que recebe muito sente-se menosprezado e com desejo (mesmo inconsciente) de ir embora. Então, quando uma relação está desequilibrada, aquele que deseja romper e, com frequência é a pessoa que recebe mais, escuta a velha frase emblemática: "depois de tudo o que eu fiz por você..."

Pois bem, agora vamos olhar para esta frase e o efeito que ela gera.

"Depois de TUDO" quer dizer que MUITO foi feito. Ou seja, feito em excesso, em desequilíbrio.

Mas o que leva uma pessoa a querer fazer MAIS pelo outro? No fundo, aquele que faz mais olha para aquele que recebe como pequeno, ou incapaz de conseguir sozinho. Onde a gente vê isso? Na relação entre pais e filhos. Os pais ajudam os filhos quando, de fato, estes não são capazes de conseguir sozinhos. Até que passam a ter autonomia e precisam seguir a própria vida. Se uma relação entre iguais, reproduz o mesmo modelo que ocorre entre pais e filhos, o resultado, com frequência é o mesmo. O desejo de ir embora, seguir a própria vida. 

Ainda olhando para o efeito da bendita frase, também podemos observar que ela tem um tom de exigência. Como quem espera a retribuição do que foi feito. Veja, como isso não faz nenhum sentido, porque nem os filhos podem pagar a vida que receberam dos pais, nem um casal pode exigir um do outro aquilo que não está disponível para ser trocado.

Então no fundo, quando olhamos para a sensação de ingratidão que vem desta frase, estamos olhando para uma relação desequilibrada ou fora de ordem. 

Ingratidão, é não fazer algo bom com o que foi recebido. É negar que algo foi dado. Igratidão não tem a ver com falta de retribuição. Alguém pode receber algo, ser grato e não retribuir o que foi feito. Assim como alguém pode retribuir o que foi feito e ser ingrato.

Percebe como isso pode parecer confuso?

Pois bem, espero que este texto tenha feito algum sentido para você.

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Beijos

Viviane Lopes

  

 

 


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