Com alguma frequência recebo clientes para Orientação Vocacional Profissional que chegam muito certos acerca de suas escolhas profissionais, dando pouca abertura para pensar em outras carreiras. Buscam o serviço apenas “para confirmar” a escolha, o que já caracteriza uma contradição: por que algo tomado como certo precisaria ser confirmado?

Para esses orientandos eu costumo citar o filme “O Palhaço”, que conta a história de um homem melancólico que fora palhaço a vida toda, que decide viver uma vida comum na cidade, abandonando a vida itinerante do circo.

Ao se permitir viver essa experiência ele se dá conta de que ser palhaço era o que ele realmente gostava. Regressa ao circo, onde deixa de ser melancólico. O circo não mudou, é o mesmo, quem mudou foi ele, pois agora ele sabe o que ele realmente quer. E ele só descobre isso porque se permitiu experimentar algo diferente.

Aplicando isso aos meus orientandos, quando eles chegam muito certos do que querem, não estão se dando a oportunidade de “sair do circo” e pensar em novas possibilidades, restringindo muito o campo de visão no momento em que justamente deveriam estar abrindo, a fim de tomar uma decisão acertada.

Uma forma (uma, não a única) mais profunda de se interpretar essa resistência em abrir-se à novas possibilidades é que esta seja causada, na verdade, por uma forte dúvida não aceita, em função da não aceitação é convertida em uma rígida e inabalável, porém falsa, certeza. Afinal, quando tenho certeza de algo, não temo testá-la, pois tenho a convicção de que, por ser certa, ela prevalecerá no final.

Claro que essa reflexão não se limita apenas à escolha profissional, podemos estendê-la a qualquer outra escolha significativa.

Só podemos sanar verdadeiramente as dúvidas que nos permitimos sentir. Caso contrário corremos o risco de acabar como palhaços melancólicos.


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