O evoluir do amor, da família, da sexualidade e do casamento, longe de ter sido linear ou homogêneo, foi influenciado por acontecimentos importantes, tais como: a descoberta da pílula anticoncepcional – desvinculando o prazer sexual à reprodução e empoderando a escolha da mulher sobre seu corpo, quanto a ter, ou não, filhos.

       A independência financeira da mulher, também influenciou, tornando-as menos submissas e passivas, possibilitando que saíssem de um casamento insatisfatório que outrora as segurava em troca do sustento e proteção de um marido.

       Outro fator, foi o individualismo exacerbado que busca o hedonismo, imediato e sem custo, de tal forma que as pessoas passaram a pouco investirem na relação amorosa, porém, aumentando a expectativa de gratificação e baixa tolerância à frustração.

       E, por fim, a longevidade advinda dos progressos científicos e tecnológicos. Vive-se muito, e a “felicidade para sempre” passou a durar muito mais que para as gerações antecedentes, diante disso, as pessoas ficam mais exigentes e menos tolerantes.

       Convencionou-se que casar por amor é sinônimo de felicidade e, consequentemente, tornou-se o objetivo de todos. Essa ideia de felicidade conjugal aumentou a expectativa para o casamento em si, gerando anseios difíceis de serem satisfeitos. Parceiros são escolhidos por amor e, espera-se que esse amor somado ao desejo sexual sejam recíprocos e para a vida toda. A convivência e a intimidade mostra outra coisa. As frustrações se acumulam e concessões são feitas. O amor até que a morte nos separe fica cada vez mais difícil.

       Vivemos na era da modernidade líquida, as coisas acontecem rápido demais, sem essência, sem profundidade, estamos habituados a resolver tudo com apenas um botão do controle remoto. Os sinais estão confusos e mudam rapidamente e de forma imprevisível, influenciando em nossa capacidade de amar a nós mesmos e ao próximo.

       Com amor há encontro, há diferença, o individual passa a ser relação. Estamos nos tornando homens e mulheres sem vínculos sociais, descartáveis e descartados, com prazo de validade curto demais e tolerância, praticamente zero. Essa ideia de Bauman é corroborada por Aratangy ao considerar a importância do amor no relacionamento conjugal, talvez como compensação pela impessoalidade e distanciamento das relações sociais e profissionais.

       Sendo o amor romântico eleito como a única base legítima para o casamento. Destarte, sobrecarregam o casamento, ao fantasiarem que todos os sonhos serão realizados pelo simples fato de se casarem por amor, essas expectativas irreais revertem-se em muitas frustrações.

 

Marcelo Souza

Especialista em Terapia de casal e família pelo ITFSP - Instituto de Terapia Familiar de São Paulo 

Sócio Titular da APTF - Associação Paulista de Terapia Familiar 

E-mail: contato.psico.marcelo@gmail.com

Ao amor como motor e fio condutor sempre! :-)

 


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