Naturalmente os pais têm uma certa ansiedade pelo crescimento e desenvolvimento dos filhos. Um destes motivos é que eles são responsáveis diretamente por essas crianças, pela propagação das suas crenças, valores, princípios. Também são eles quem vão ensinar tudo que não devem fazer e que internamente os pais sempre condenaram em outras crianças e até outros adultos.
Porém tem sido muito comum vermos crianças com sintomas de ansiedade desde as mais tenras idades. Na clínica em que eu atuava, a idade mais precoce era 4 anos e eu já achava muito baixa. Porém não conto quantas triagens de pais de bebês de 1 ou 2 anos que já relatavam ansiedade.
Quem me acompanha sabe que eu não atendo crianças e adolescentes, mas trato de vários pacientes que são pais, ansiosos e que identificam que os filhos têm vários comportamentos iguais aos deles. Isso é muito angustiante, pois os genitores percebem que os filhos aprendem uma parte do seu “pior lado”. De fato, a mensagem que os descendentes estão captando é que o mundo é um lugar duro, perigoso, hostil e que não é possível viver, nem seus pais poderão ajuda-los, pois eles mesmos estão sofrendo com as questões.
Como a ansiedade superestima o medo que sentimos de um objeto ou situação, os pais podem ter a crença de que um determinado problema é grave e irresolúvel e a criança passa a agir da mesma forma com os seus próprios problemas e dificuldades. A ansiedade pode estar sendo aprendida pela imitação do comportamento dos genitores ou por ouvi-los falar de histórias sobre os seus medos e anseios. Lembrando que isso pode ser diretamente para as crianças ou estas os ouvindo conversar com outros adultos.
Vale ainda ressaltar que, se os pais ansiosos em questão tiveram mais de um filho, é possível que ambos reajam diferentes ao estímulo da ansiedade vindo dos genitores, ou seja, não se pode desconsiderar que a criança/adolescente também tem a sua própria maneira de atuar neste ambiente ansioso, enfim, tem a sua personalidade.
Algumas dicas pontuais para não influenciar a ansiedade:
- Não adianta se sentir culpado! É claro que você não quer que seu filho sofra com a ansiedade que você também já sofre. Porém ele vai se espelhar em você, como referência de vida e de comportamento. Logo, sem culpa, mas procurando se cuidar para cuidar do seu pequeno.
- Algo fundamental: acolhimento. A criança está em sofrimento e precisa ter um espaço para falar o que está sentindo. Promova este espaço sem julgamentos ou condenações.
- Cuidado com o ambiente, com o que assiste, com o que conversa. Muitas vezes a família está imersa em um ambiente ansioso, conversando com pessoas assim e assistindo a programas/vídeos que reforçam isso.
- Não tem como privar os filhos das dificuldades e desafios da vida e aqui a gente tem que respeitar cada idade com as suas lições correspondentes;
- Ensine-o a esperar. Nem tudo na vida acontece no meu tempo ou segundo a minha vontade.
- Expressar seus medos e ansiedades com bastante cuidado e não demasiadamente. Lembro que os pais são referências para as crianças e são constantemente observados por elas em todos os momentos, seja na lição de casa, na conversa ao telefone, no lazer etc.
- Trabalhar com eles a gestão dos próprios sentimentos e emoções. Dar nomes ao que está sentindo é uma forma ótima de trabalhar com a verdade e não fingindo que não acontece nada. Esse exercício é bom inclusive para os adultos.
- Não colocar expectativas nele. Saiba distinguir os seus sonhos e os que esta criança/adolescente quer para si.
- Ter flexibilidade nas atividades fora da rotina. Demonstre tranquilidade quando algum imprevisto acontecer.
- Aceitar que eles funcionam de outra maneira diferente da sua. Estão em outra época, outra geração, com outro tipo de alimentação, em outro tempo e funcionamento. Não que você tem que desconsiderar seus aprendizados, mas apenas considerar que eles podem ser diferentes.
- Ensine-o a respirar profundamente. Isso também vai te ajudar a lidar com a sua própria ansiedade.
Uma terapia pode ajudar os pais a refletir sobre os seus comportamentos e identificar quais não estão sendo saudáveis para o melhor crescimento e desenvolvimento dos filhos, além, claro, de criar estratégias para mudar, pois estamos considerando que os pais também são ansiosos e isso por si só já poderia ser motivo de buscar ajuda a fim de ter mais qualidade de vida.
Referências:
https://escoladainteligencia.com.br/entenda-como-a-ansiedade-dos-pais-reflete-nos-filhos/ Acessado em 22/04/2020
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